terça-feira, 24 de março de 2009

Uma viagem no tempo: A história do automóvel e a história de Campanha/MG

Parte do histórico pesquisado por ocasião de exposição comemorativa os 260 anos da Campanha, organizada pelo Centro de Estudos Campanhense Monsenhor Lefort, realizada no período de 02 a 24 de outubro de 1997, na sala de exposição temporária do Museu Regional do Sul de Minas.

Foto: João Maurício e sua jardineira.

A Enciclopédia “Conhecer” nos conta que assim que o homem descobriu que andar cansava, transferiu o problema para outros: cavalos, burros e companhia. Mas estes eram lentos, quer como monta­ria, quer puxando veículos. Como o homem queria an­dar depressa, resolveu inventar um meio de transporte mais forte e ligeiro que fosse AUTO MÓVEL - isto é, que se movesse sozinho. E tanto fez, que inventou mesmo. A infância do novo veículo foi penosa, mar­cada por muita tentativa mal sucedida e muito fracasso desanimador. Mas passou logo e, com o tempo, o au­tomóvel tomou corpo e ganhou força.

As pessoas se acostumaram ao novo tipo de transporte que encurtava distâncias, trazia progresso e conforto.

Na Campanha o automóvel chegou lá pelos idos da década 20. Chegou pilotado pelo mecânico italiano Rafael Ambrósio. Era um novíssimo FORD BIGODE PRETO que assombrou os moradores locais.

A invenção modificou para sempre a vida da co­munidade. Campanha cresceu. Desenvolveu-se. Tran­sformou-se. Vieram as escolas, o bispado, o seminário, as indús­trias, a luz elétrica, correios e telégrafos, o hotel São Sebastião, depois Campanhense. Foram instalados os serviços da Telemig, da Caixa Econômica Federal e Real e do Banco do Brasil. Nessa evolução, o automóvel re­presentou papel fundamental: foi o propulsor e princi­pal símbolo dos novos tempos.

LINHAS DE JARDINEIRAS NA CAMPANHA

A primeira linha de jardi­neira foi para São Gonçalo do Sapucaí e o pioneiro desse progresso foi Rafael Ambrósio, mecânico italiano, residente em Campanha e introdutor do automóvel. Inicialmente as primeiras jardineiras eram abertas dos dois lados, com bancos fixos e de madeira. Passageiros: l5. Velocidade máxima: 20 km/ h.

Em março de 1938 foi criada uma empresa por iniciativa do coronel João Rodrigues da Costa, residente em Cambuquira, li­gando Três Corações a São Gonçalo, passando por Campanha e Cambuquira. Nesta época, a empresa Auto Viação Pedro Solio e Filhos interligava as cida­des de Machado, Varginha e Campanha, passando por Ponte Alta (Monsenhor Paulo) e Elói Mendes.

José Thomaz Filho, oriundo de Passa Quatro, chegou à Campanha pelo trem, no qual trabalhava, na época em que a Maria Fumaça fazia seu percurso por esta cidade, na década de 1930. Era garçom da Ferrovia e contava com orgulho suas peripécias pelo vagão-restaurante.

Neste vaivém, veio a conhecer Alice Pinto de Almeida, filha do luthier Adolpho Pinto de Almeida, com a qual constituiu matrimônio.

Assim, passou a residir nesta terra por mais de 50 anos e já se considerava campanhense.

Iniciou sua vida em Campanha como chofer de praça. Hoje, motorista de táxi. Tinha um fordezinho preto, no qual fazia corridas não só com as pessoas desta cidade, como também com os turistas que vinham veranear em Cambuquira.

Criou uma linha de Campanha para Monsenhor Paulo, na época, conduzida por jardineira. Mais tarde fundou a linha "Rápido São Jorge", de Campanha a Varginha, via Cambuquira e Três Corações, estendendo posteriormente a Monsenhor Paulo.

Ao sentir a necessidade dos campanhenses de irem a Belo Horizonte para resolverem seus problemas de saúde e negócios, que muitas das vezes, só acontecia nesta, ele estudou a possibilidade de fundar uma linha nascendo em Campanha e ir até a capital mineira, via Cambuquira e Três Corações, mais tarde São Gonçalo. Estava estabelecido o novo trajeto do "Rápido São Jorge". Campanha tinha agora, o contato direto a Belo Horizonte, saindo às 5 horas, chegando a capital mineira às 11 horas. Regressando da capital às 14 horas e retornando a Campanha às 20 horas, o que facilitava, em muito, a vida daqueles que queriam resolver seus negócios e ainda regressarem no mesmo dia.

Em 1947 foi criada uma linha direta para Varginha cujo empresário, Andrielle Andriatta, ficou famoso pelas suas pe­ripécias nas estradas barrentas e es­buracadas. Sua jardineira era uma Chevrolet, modelo 1939.


Em 1950, um lavrador, nascido no Catiguá (zona rural do Município) a 15 de agosto de 1906, filho de Carolina de Miranda e João Maurício de Miranda, iniciou na Campanha sua linha de jardineira. Fazia o percurso de ida e volta entre São Gonçalo, Campanha e Cambuquira. Este homem bom, que nas­ceu para servir, era João Maurício de Miranda. Muito conhecido e popular, amigo de todos e muito paciente, sempre esperava no acostamento, próximo às porteiras das fazendas da região, os passageiros retardatários e nunca se importava com as inúmeras paradas e conseqüentes interven­ções no bagageiro. Para todos tinha uma saudação, uma prosa amiga. Com dinheiro ou sem ele, qualquer um viajava em sua jardineira.

Sua filha Eginézia (mais conhecida por Anésia) nos esclarece que certa vez um casal de São Paulo viajou com ele e ficou tão encantado com sua pessoa que o presentearam com uma Bíblia. Após a sua morte, a família a encontrou entre seus pertences. Nela o casal havia dedicado ao Sr. João Maurício o Salmo 112.

Só em 1971, sr. João Maurício, já doente e proibido de viajar, afasta-se, por imposi­ção médica, da profissão que tanto amava. Falece em 1974.

Em 1950, Getúlio Vilela Filho inaugurou sua linha de jardineira, ligando a Ressaca, mais tarde Distrito dos Fer­reira, a Campanha e a São Gonçalo. Começou com um Ford 39, possuindo em seguida, três Chevrolets: 1951, 1958 e 1960.

Herói anônimo das estradas poeirentas, Getúlio fez o trajeto 46 anos. O manteve até meados da década de 90. Sua grande paixão era conservar sua jardineira, relíquia que marca época na história do transporte coletivo na Campanha.

Em 1955, assumiu a linha Antônio Benjamim Andriatta. Depois João Paulo Miranda, filho de outro pioneiro do transporte coletivo, o sr. João Maurício de Miranda. Após tocá-la por um ano, a linha foi adquirida por Antônio Miguel Cury (Toninho Cury), o último dos pioneiros.

Textos e fotos enviados por Angélica Andrès e Lindaurea de A. Thomaz Ferreira. (Campanha-MG)

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