terça-feira, 24 de março de 2009

Revolução de 30 - Campanha/Cambuquira

Contribuição de Angélica Andrès - pesquisadora campanhense


A Revolução


Leonardo Lima


A sede pelo poder leva a humanidade a cometer os maiores desatinos. A prova disso são as guerras e conflitos que ao longo da história provocam mortes e lágrimas. A revolução de 1930 em nosso país não foi diferente. Duas facções políticas achando-se prejudicadas em seus acordos e conchavos acabaram por se estranhar e foram defender seus direitos pelo pior caminho: o das armas. Paulistas, governo central e diversos estados da federação, enfrentando mineiros, gaúchos e paraibanos. Não pretendo aqui falar dessa revolução a não ser nos episódios em que a nossa Campanha esteve envolvida.

Esses combates sangrentos trouxeram conseqüências que afetou, naquela época, toda a população. Uma delas foi a carência de alimentos. Nossa cidade se transformou num celeiro partindo daqui caminhões para as cidades vizinhas com carregamentos de farinha de trigo e cereais de modo a evitar a escassez de produtos básicos para a alimentação da população. As cidades mais favorecidas com esse fornecimento foram São Gonçalo do Sapucaí e Cambuquira.

O comando das forças mineiras escolheu Campanha como ponto de concentração das forças para atacar o Regimento em Três Corações.

Foi no dia 11 de outubro de 1930 que aqui chegou o major Lemos à frente de uma coluna de soldados, sendo recebido entusiasticamente pela população. Após rápido descanso segue para Três Corações para reforçar a coluna do coronel Fonseca que já assediava o quartel. Nesse mesmo dia, a coluna do major Lemos entrou em combate. O regimento, após trinta e seis horas de intenso fogo, cai em poder das forças mineiras. Nesse combate ocorreram as mortes dos tenentes Dutra e Vasconcelos, da polícia mineira. O tenente Vasconcelos foi trazido ainda ferido para a Santa Casa de Misericórdia da Campanha onde faleceu, confortado pelos santos sacramentos.

Quando tudo isso ocorria lá em Três Corações, chega aqui em Campanha uma tropa paulista, que tinha como objetivo socorrer o regimento que estava sendo atacado. Era dia 13 de outubro. Nada encontraram aqui, pois a força havia se deslocado para Três Corações. Resolveram, então, acampar. Instalaram-se no antigo fórum e cometeram inúmeros desatinos, tomando os trabalhos manuais dos presos que se encontravam detidos na parte baixa do fórum, colocaram na parte superior do prédio um cartaz com os seguintes dizeres: “Campanha - Estado de São Paulo”. Resolveram, então, pernoitar aqui. A população vendo o modo como se comportavam os paulistas e temendo a volta da tropa mineira o que possibilitaria um confronto formidável, fugiu embrenhando-se no mato ou furou buracos nos assoalhos de suas casas e lá permaneceu escondida. Nessa noite chovia muito, o que tornou a fuga um verdadeiro tormento para os fugitivos. Foram duas noites e dois dias de sofrimento.

Essa tropa paulista comandada pelo capitão Antonio Piestscher, após descanso de dois dias, seguiu para Três Corações, pois ainda não sabia da queda do regimento. Quando chegou na ponte do rio São Bento encontrou com uma patrulha mineira resultando aí um entrevero que resultou em mortes e feridos. Após esse combate a tropa paulista, sabedora de que as tropas mineiras dominavam o regimento retrocedeu imediatamente passando velozmente pela nossa cidade, deixando caminhões e armas pelo caminho retornando para Pouso Alegre.

As colunas mineiras tentaram cercar a tropa paulista, vindo a tropa do major Lemos pela estrada de Cambuquira, enquanto o coronel Fonseca trazia a sua, pela estrada de Varginha. Quando se encontraram em Campanha, os paulistas já estavam longe.

Esse é, em resumo, o que se depreende da leitura do esplêndido artigo publicado na revista campanhense “Alvorada”, edição de novembro de 1930.

Há, no entanto, um artigo provavelmente escrito pelo então padre Hugo Bressane, que servia em nossa paróquia, cujo teor transcrevo a seguir:

“Desde o dia 4 de outubro se acha a cidade sob o tétrico véu da revolução. Os fieis, diariamente, correm às igrejas a fazer oração pela paz. No dia 12 passam por Campanha os voluntários vindos de Machado, Alfenas, Varginha e Elói Mendes, para auxiliarem as tropas mineiras que atacavam Três Corações. Em 15 passaram as tropas paulistas que depois de atirarem à patrulha mineira, fogem velozmente, deixando doze feridos na Santa Casa. O Tenente Vasconcelos, mineiro, teve morte edificante, confortado com os santos sacramentos. Seu enterro foi com assistência numerosíssima. Todos os feridos salvaram-se. Em 24 chegou a notícia da vitória da revolução. Houve Te Deum pela paz. Em 30 houve missa solene de ‘Réquiem’ pelos mortos da revolução. Em ambos os atos a catedral esteve repleta. Dr. Artur Bernardes enviou um telegrama de agradecimentos ao Cura da Sé”.

Dos relatos acima há divergência quanto à morte do Tenente Vasconcelos, pois enquanto na “Alvorada” o falecimento aconteceu por ocasião do ataque ao quartel em Três Corações, o segundo diz que o fato ocorreu na emboscada preparada pela tropa paulista na ponte do São Bento.

Quanto ao militar morto ele se chamava Joaquim José de Vasconcelos, era 2º tenente da Força Pública mineira, natural de Mariana e residente em Uberaba. Consta dos assentamentos da Santa Casa de Misericórdia que ele deu entrada com ferimento no tórax, lado direito, que ocasionou hemorragia interna. O seu sepultamento foi providenciado pelo Dr. Serafim Maria Paiva de Vilhena que na época era o presidente da Câmara Municipal.

Há, ainda, nos livros da Santa Casa o registro de mais um óbito ocorrido no dia 15. Trata-se do soldado José Pedro, natural de Ouro Preto e residente em Três Corações que deu entrada no dia 14 com ferimento no crânio.


Nosso jornal na coluna “Em Branco e Preto”, de fevereiro de 99, edição 22, faz referência sobre esse episódio triste da vida brasileira.


É vergonhoso a ocorrência desse tipo de revolução em que se envolvem brasileiros. Mais triste ainda saber que pessoas tenham sacrificado suas vidas para a satisfação do ego de políticos.

Muito triste.

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